No meu roupeiro existem peças de roupa que adoro, outras nem tanto, umas que não me favorecem tanto, outras que me ficam super bem, mas, a cima de tudo, cada uma tem um significado diferente, cada uma carrega uma memória, um momento marcante de quando a tinha vestido. Por essa razão, decidi falar, não em uma, mas num conjunto de peças de roupas que para mim têm um significado especial: o traje académico.
Para quem é estudante numa universidade, seja ela qual for, existe sempre aquela mística do traje académico, principalmente quando se tem irmãos mais velhos e que já os viu usar o traje. Foi isso que aconteceu comigo. Eu vi a minha irmã usar o traje e por isso eu fiquei com o desejo de um dia o usar também. Só que, quando eu própria entrei para a universidade, encontrei um obstáculo, as praxes... Se não passasse por todo o processo de praxe, quintas-feiras negras e tribunal de praxe, não podia trajar. Quer dizer, poder, podia, mas não era a mesma coisa.
Quando entrei, fui disposta a participar nas praxes do meu curso. Tentei ir com a mente mais aberta possível. Mas, passados aqueles primeiros dias de praxe, soube que aquilo não era para mim. Aquelas praxes não eram nada como as que se ouvem falar, à base da humilhação e da agressividade, não, pelo contrária, as nossas praxes eram só á base de pequenas atividades organizadas pelas veteranas, com o objetivo de nos divertir e integrar no curso. Mas, ainda assim, havia qualquer coisa na forma que elas nos tratavam que me intimidava muito. Cheguei ao ponto de ter ataques de ansiedade sempre que nos marcavam uma quinta-feira negra. Foi ai que decidi desistir.
Quando tomei esta decisão, tinha plena noção do que é que isso significava, não podia trajar com a mesma liberdade que as minhas colegas que tinham levado a praxe até ao fim, nem podia participar em certos rituais, como o traçar da capa, mas havia um evento em que o podia usar com o mesmo orgulho que todas as outras, a queima das fitas.
Há quem pense que o traje é como que uma "recompensa" de tudo o que sofreu durante a praxe, e têm todo o direito a pensar isso, mas para mim foi diferente. Para mim usar o traje na queima das fitas, no ultimo ano de licenciatura, foi o culminar de três anos muito duros e conturbados, foi o realizar de um sonho que esperei muito para realizar.
Não é preciso ter participado na praxe para usar o traje com orgulho. Usar o traje é um direito de cada um e cada um dá-lhe o significado e a importância que bem entender, conforme as suas vivências e crênças.
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O meu traje académico. |